A educação ambiental pode entrar para a grade escolar de alunos dos ensinos fundamental e médio. Um projeto de lei, criado pelo senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), pretende estabelecer a disciplina como obrigatória nos colégios brasileiros.
Hoje, a educação ambiental é abordada de forma transversal às matérias obrigatórias. Matemática, Português, História, Biologia e outras disciplinas devem conter conteúdos relacionados à conscientização e sustentabilidade.
Para o senador, o modelo atual não é suficiente para a educação dos estudantes. Segundo o projeto de lei, assuntos como reciclagem, medidas de reuso de água e ecologia devem ser tratados com a devida importância, em uma disciplina específica.
O projeto ainda está em tramitação, mas sua relevância tem sido discutida por profissionais de educação. Especialistas acreditam que tratar questões ambientais em todas as matérias é uma maneira de ampliar sua relevância, e não diminuí-la.
“A educação ambiental está presente em todos os setores da nossa vida. Tudo o que fazemos está relacionado ao ambiente”, diz Tiago Georgette, diretor de educação ambiental da prefeitura de Limeira, no interior de São Paulo. Ele defende que a disciplina não deve se tornar obrigatória. Aposta na ideia de que questões do meio ambiente devem ser tratadas com seriedade em todo o currículo escolar. Mas para que isso aconteça, há um desafio: capacitar os professores.
Pensar (o meio ambiente) fora da caixinha
Segundo Tiago, quando o assunto é sustentabilidade, um dos maiores desafios é encontrar soluções criativas para atrair o interesse dos alunos. Por meio da interdisciplinaridade, professores podem abordar mais de um tema em uma única matéria.
O diretor dá um exemplo: em matemática, quando se estuda “conjuntos”, é possível trabalhar a biodiversidade. O leão faz parte da savana ou do cerrado? E o lobo-guará? Ao classificar os animais nos grupos certos, é possível estudar duas matérias ao mesmo tempo.
O mesmo vale para português. Tiago sugere fazer um passeio com os alunos pelos arredores da escola, identificando problemas ambientais, como descarte irregular de lixo. Depois, os estudantes podem treinar redação ao redigir uma carta para o prefeito da cidade, exigindo melhorias.
Em Limeira, Tiago dirige um projeto da prefeitura que capacita professores da rede municipal. Eles aprendem a incluir a educação ambiental em suas disciplinas de forma desafiadora e interessante para os alunos.
Se as demais matérias se tornam mais complexas para as crianças ao decorrer dos anos, questões ambientais também têm que se tornar
Para os defensores do projeto de lei, professores e escolas não sabem trabalhar a educação ambiental de forma interdisciplinar. Por isso, o modelo atual não é eficiente. Tiago concorda: essa é uma dificuldade real.
Em sua opinião, universidades devem investir na educação ambiental durante a licenciatura. Estudantes que se formam professores de qualquer matéria devem ser capacitados ainda na graduação. Assim, quando formados, estarão aptos à tratar questões do meio em suas disciplinas.
Educação ambiental para todos os momentos da vida
O projeto proposto pelo senador Cássio Cunha Lima altera a Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Ela reconhece a importância da educação ambiental e determina que deve ser desenvolvida como prática educativa integrada a outras matérias.
Para justificar a alteração e criar a disciplina obrigatória, o senador lembra que o Brasil sofre ameaças à biodiversidade em todos os biomas. O país enfrenta um esgotamento dos recursos hídricos, poluição do ar, degradação do solo e outros riscos ambientais. Uma Legislação Ambiental que puna e controle não é suficiente para evitar a degradação. A solução seria investir de forma mais objetiva na formação dos estudantes, para que danos futuros sejam reduzidos.
Tiago Georgette também acredita que formar cidadãos conscientes e ativos é a saída. Mas por outros caminhos. “Há quem defenda que é necessário ter uma hora na semana para discutir meio ambiente. Mas qual é o objetivo? Só ensinar a importância de preservar? Fazer reciclagem? Dar ecodicas?”, diz.
Para Tiago, educação ambiental consiste em ensinar o aluno a repensar sua atuação enquanto ser humano. Estudantes devem aprender a agir de forma que suas atitudes sejam conscientes sempre, em todos os momentos da vida.
Em cada escola, uma educação ambiental diferente
Para Tiago, há outro problema no projeto de lei. A grade atual já prevê um grande número de matérias obrigatórias, com mais tempo destinado à português e matemática. Disciplinas como geografia e história recebem menos destaque. Encaixar educação ambiental nesse cronograma apertado seria um desafio.
O diretor também defende que a educação ambiental deve se adequar à cada escola. Alunos da periferia de uma cidade grande vivem realidades diferentes de estudantes de um colégio que fica na zona rural, por exemplo. Em certos locais, é preciso trabalhar melhor o racionamento de água. Em outros, o tratamento de resíduos. Em outros, a preservação de espécies em extinção. E assim por diante.
Tiago explica que o projeto da prefeitura de Limeira trabalha com diferentes assuntos todos os anos. Afinal, os objetivos da educação ambiental se transformam a todo momento, de acordo com as necessidades do planeta e com as particularidades de cada região.
Educadores, ambientalistas e políticos concordam em um ponto: educar cidadãos para que sejam conscientes e ativos é o caminho.
Qual a sua opinião sobre o assunto? Você acredita que a educação ambiental deve ser disciplina obrigatória? Ou professores devem ser capacitados para que ela seja melhor trabalhada em todas as matérias?