Como o movimento UnCollege quer otimizar a educação
Você não precisa estar na universidade para desbravar seu caminho na educação e no autoconhecimento. Pelo menos é nisso que o movimento UnCollege acredita. A organização educacional, presente nos EUA e no Brasil, não tem professores; tem mentores. Não tem escolas; tem espaços de convivência. Não tem trabalhos de conclusão de curso; tem projetos livres.
A educação autodidata dá o tom do projeto:. “O princípio fundamental do UnCollege é que pessoas devem ser empoderadas para tomar conta de suas principais escolhas de educação”, diz o movimento em sua página americana.
A filosofia é colocada em prática por meio do programa Gap Year. Em tradução livre, seria algo como “ano sabático“. “O sistema funciona para quem está querendo se encontrar ou se reencontrar”, diz Lucas Coelho, co-fundador do UnCollege no Brasil. “Mas, se alguém já sabe o que fazer da vida, também pode vir aproveitar o programa. Só não garanto que terá a mesma certeza quando sair da primeira fase”, afirma.
O movimento UnCollege começou em 2011. Foi criado pelo norte-americano Dale Stephens, na Califórnia, quando ele ainda tinha 19 anos. O empreendedor sempre foi um entusiasta da educação informal. Aos 12 quis largar a escola para estudar sozinho.
O sistema funciona para quem está querendo se encontrar ou se reencontrar
Atualmente, o UnCollege Brasil está na quarta turma. Na primeira turma de “formandos” há histórias como a de Camille Sondermann, que acabou participando de projetos de construção de casas sustentáveis na Tailândia, empoderamento feminino na Espanha e hoje estuda religião na Romênia. “Inicialmente, ela não gostava de falar em público e não queria ir para a Ásia. Hoje, está aí fazendo tudo isso”, diz Lucas.
Como funciona o sistema de autoconhecimento do Uncollege
O programa Gap Year é dividido em quatro fases – todas voltadas ao autoconhecimento. Na primeira, o participante fica na casa do UnCollege, em Ilhabela, uma paradisíaca ilha no litoral norte do estado de São Paulo, cheio de endereços fantásticos que podem ser encontrados no busca cep. Por três meses ele passa por uma série de workshops, mentorias, coaching, gincanas e tarefas que ajudam a pensar quais seus objetivos e como a educação pode guiá-lo nesse caminho.
Na segunda fase, os participantes fazem um intercâmbio em outro país. A viagem é bancada pelo participante, mas o UnCollege aciona sua rede de contatos para a pessoa encontrar a experiência que está buscando. “Ajudamos a planejar tudo, a encontrar moradia, transporte e alimentação. Normalmente tudo isso vem em troca de trabalho voluntário”, garante Lucas.
Já na terceira etapa, de volta ao Brasil, o estudante procura um estágio na área em que quer atuar. Novamente, o UnCollege recorre à rede para ajudá-lo a encontrar espaço no seu universo de interesse.
Por fim, o participante tem que desenvolver um projeto que sintetize todo seu processo de aprendizado. Pode ser um negócio, uma exposição de fotografia ou um curso de yoga. Qualquer projeto que ele sinta vontade de fazer e que tenha relação com o que aprendeu durante o ano.
No entanto, o processo não acaba exatamente aí. Segundo Coelho não há uma formatura. Os participantes continuam a usufruir da mentoria e podem contar com qualquer apoio para continuar estudando ou tocando seus projetos.
O GapYear completo, incluindo a hospedagem e refeições em Ilhabela, além de todo o apoio educacional durante o ano, custa R$ 13 mil. Veja mais detalhes no site do movimento.
A autoeducação dos fundadores
Lucas Coelho, 26 anos, estudava Engenharia de Produção na Universidade Federal de Santa Catarina. Desistiu e começou a procurar por iniciativas de autoconhecimento quando conheceu a organização e mandou um e-mail para Stephens. Começaram a conversar virtualmente e Lucas sugeriu internacionalizar o projeto. Em 2014, o UnCollege saia dos EUA e ganhava seu pé internacional, aqui no Brasil.
Hoje Lucas tem sua própria empresa, a Flama, focada em experiência do usuário na internet. Ele se divide entre Brasília e Ilhabela. Mas sua participação no UnCollege é pontual e não participa mais do dia a dia. Também está criando uma empresa de educação digital, a Nomad, que busca ajudar as pessoas criarem protótipos de projetos digitais.
Tanto a Flama quanto a Nomad são frutos indiretos de sua experiência com o UnCollege. “O processo me mudou em muitos aspectos. Alterou como eu enxergo as pessoas, o propósito que elas têm e a paciência necessária com o tempo do outro”, diz. “O mais legal é ver que você não está sozinho nesse caminho alternativo. Para mim, a experiência me convenceu de que, realmente, a universidade não é o único caminho. E nem deveria ser”, conclui.
E você? Estaria disposto a tirar um ano sabático para promover o autoconhecimento?